Doações garantem sorrisos e chocolates a cerca de 3 mil crianças do bairro Morretes, em Itapema, nesta Páscoa

Doações garantem sorrisos e chocolates a cerca de 3 mil crianças do bairro Morretes, em Itapema, nesta Páscoa

Nenhuma das cartinhas recebidas por Alzira Hirt ficou sem resposta.

O bugue amarelo da contadora Alzira Hirt chama a atenção quando passa pelas ruas do bairro Morretes, em Itapema. No veículo, ela carrega duas voluntárias vestidas de coelhinhas e muitas cestas de Páscoa. As doações têm destino certo: milhares de crianças que lhe escrevem todo ano pedindo, na maioria das vezes, apenas algum alimento para a família.

O pequeno carro desperta uma alegria contagiante nos pequenos, que correm de pés descalços no chão batido atrás do bugue. Alguns esperam na janela e ficam fascinados com a chegada das coelhinhas. Com os olhos brilhando, chegam perto do veículo e recebem o único presente que ganharão nesta Páscoa. E o retorno é imediato, com abraços e sorrisos.

Nascida em Concórdia, no Oeste de Santa Catarina, Alzira já trabalhava com voluntariado, mas foi quando veio para Itapema que seu trabalho cresceu. Ela gostava de enfeitar a casa no Natal e um dia recebeu três cartinhas de crianças pedindo presentes ao Papai Noel. Foi ali que seu desejo de fazer o bem só aumentou. Hoje, ela entra em qualquer rua do bairro Morretes, um dos mais carentes da cidade. É reconhecida pelos moradores e procurada em diversas ocasiões, seja para conseguir uma consulta, roupas, calçados ou comida.

Neste ano, Alzira recebeu cerca de 3 mil cartas de crianças da região. Nenhuma fica sem resposta, nem que para isso o presente venha do próprio bolso. Porém, ela consegue arrecadar várias doações a casa fica tão cheia que quase não dá para passar pela garagem.

Há 24 anos eu faço esse trabalho, que começou pequeno e foi crescendo. Tive uma infância desgraçada, passei necessidade, mas a vida foi generosa comigo. Hoje tento fazer pelo próximo aquilo que eu queria que tivessem feito por mim conta.

Chamada pelos conhecidos de “Coelha” ou “Mamãe Noel”, Alzira se diverte em meio às crianças. Bate fotos, distribui abraços e é incansável. Trabalha até tarde para atender a todos. Tem um cuidado extra com os pedidos de cada um, confere os endereços escritos à caneta sobre as cartinhas e se certifica de dar atenção a todos.

Há uma semana ela faz as entregas da Páscoa e chega a passar por quatro ruas em uma tarde. Em alguns dias vai fantasiada, noutros fica observando de perto o repasse das doações. No dia em que recebeu a reportagem, continuavam a chegar cartinhas de crianças em busca de um presente.

É gratificante ver o sorriso das crianças e levar um pouco de esperança para elas. Muitos que receberam presentes meus hoje são adultos e me procuram para oferecer ajuda explica.

Com o reforço de voluntárias, atualmente Alzira se dedica somente ao assistencialismo. Nem o cansaço do trabalho lhe tira a energia para continuar a desenvolver projetos. Ela diz que quando as datas festivas passam se sente vazia, e por isso precisa seguir ajudando.

A advogada Bruna Genrke compartilha do mesmo sentimento. Moradora de Itapema, conheceu Alzira há cerca de dois anos quando começou a fazer doações para suas campanhas. Depois de um tempo, resolveu participar mais dos projetos e nesta Páscoa se vestiu de coelha para entregar presentes.

É muito emocionante. Ver a alegria das crianças não tem preço diz.

Ana Júlia e o pequeno Elieser estavam no quintal quando o bugue amarelo apontou na esquina de casa, no final do bairro Morretes. O veículo parou em frente ao imóvel humilde onde a família mora de aluguel. A motorista Alzira começou a chamar pelos nomes das crianças que escreveram cartas. Naquela rua, os seis presentes foram entregues para os filhos de dona Rosinilda Witt dos Santos. Ela também ganhou uma cesta básica e se emocionou com o gesto:

Não temos condições para comprar presentes de Páscoa, então eu agradeço muito. Meu marido está desempregado e sempre precisamos de ajuda, falta bastante coisa. Às vezes, as crianças acordam e pedem leite ou biscoito e a gente não tem pra dar, tem que dizer que vai comprar.

Assim como Rosinilda, Ana Carla de Oliveira não tem como comprar presentes para os três filhos. Por isso, ela ajudou os pequenos a escrever as cartas. A entrega foi só alegria. Miriã, de cinco anos, escutou a buzina do bugue de Alzira e correu para a janela. Ela recebeu as cestas usando uma máscara de coelho. Pura felicidade.

Eu escrevi a cartinha porque sabia que não ia ganhar diz.

Este é o terceiro ano que ela e os irmãos recebem presentes das voluntárias.

Fotos: Lucas Correia, Agência RBS
O SOL DIÁRIO – Maikeli Alves